Depois da Tempestade - Resenha crítica - Ricardo Amorim
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Depois da Tempestade - resenha crítica

Depois da Tempestade Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Economia

Este microbook é uma resenha crítica da obra: Depois da Tempestade

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 858630767X, 978-8586307676

Editora: Record

Resenha crítica

A história da formiga e a cigarra… de novo?!

O autor inicia no ano de 2009, quando o ciclo global de economia era outro. O Brasil era visto como uma potência exportadora de matéria-prima, a China se tornava uma potência estabelecida e os EUA sentiam os efeitos da crise que devastou sua economia.

Internamente, essa nova ordem global trazia boas coisas. Investimentos pesados eram feitos em todo o país. Ao mesmo tempo, muito dinheiro ia para as áreas estratégicas de infraestrutura e educação.

E apesar de o Brasil apesar de ter crescido pouco neste ano, conseguiu entrar de vez no famoso clube dos BRICS, termo cunhado para determinar o grupo de países grandes e emergentes. Era esperado que, dentro de poucas décadas, esse grupo assumiria a liderança do comércio mundial.

O Brasil sofreu menos consequências da crise global, porém inúmeras reformas na economia já eram necessárias. Não se sabia até quando que as commodities puxariam a economia do país para cima.

Retomada do Brasil pós-crise

Apesar do ano de 2009 não ter sido fácil, o ano de 2010 começou muito bem para o Brasil. Tivemos dados muito positivos do consumo das famílias e comprovamos o que os economistas já vinham estudando: a ascensão enorme da população pobre para a classe média e as exportações de matérias-primas chegando a um patamar nunca antes visto. Ao término do ano, encerramos com um crescimento de 7,5% do PIB.

A entrada de Dilma

Dilma começou o governo prometendo a implantação da CPMF, um fantasma que assombrou o bolso do brasileiro por muitos anos. Além disso, a promessa do governo Dilma a foi de manter o conservadorismo fiscal e o tripé econômico adotado por Lula e herdado de FHC. Outro compromisso dela foi o de manter a política de aumento do salário mínimo.

A grande aposta da época foi que Dilma era vista como uma líder mais técnica do que Lula e que, com isso, o Brasil daria um salto de qualidade na gestão da máquina pública do país.

A 6ª economia do mundo e as responsabilidades do país

Em 2011, o primeiro ano de Dilma, ela teve um grande desafio: fazer a indústria continuar a crescer. Porém, ela não diminuiu as nossas reservas internacionais, o que demonstrou sua falta de visão sobre o que ocorria no setor. Ela também não propôs melhorias significativas na educação, já que não tentou resolver o problema da má distribuição do acesso educacional. Especialistas apontam essa como a principal causa da nossa má distribuição de renda.

O empreendedorismo do Brasil sofreu um salto enorme nos últimos anos. Causado em boa parte pela ascensão dos MEI (microempreendedores individuais), que tirou 6 milhões de pessoas da informalidade. Mas o que melhoraria o cenário geral para abrir empresas? Diminuição de gastos, controle da inflação e melhor ambiente de negócios. Justamente ações que o governo não fez.

Vimos, também, o paternalismo estatal entrar em evidência, com a ampliação dos subsídios que o governo deu para as grandes empresas. Esse programa pode ser comparado ao bolsa-família, pois, durante seu início, ele garante a sobrevivência do beneficiário. Depois, porém, desestimula que o indivíduo busque trabalhar seu potencial e melhorar.

E os resultados dessa política começaram a aparecer na economia, que em 2011, já sentia sinais de uma grave diminuição que duraria muitos anos. Somente com condições políticas e muita coragem, este estado paternalista poderia ser desmontado.

Protecionismo e os pés do tripé econômico serrados

Em 2012, o consumidor brasileiro já começou a sentir fortemente as consequências das ações do governo para proteger a economia, resistir contra as regras do mercado e ir contra a livre atuação do capitalismo.

Vimos um encarecimento dos produtos e serviços locais e a perda da capacidade de compra do brasileiro. O resultado disso foi que o nosso consumidor invadiu outros países, principalmente os Estados Unidos.

Além disso, a sociedade como um todo começou a perceber a falta de manobras do governo para conter a crise iniciante. Apesar disso, os dados do mercado imobiliário apontaram que a bolha não passou de um alarme falso.

O que vimos de mais assustador nesse ano, foram as ações do governo para serrar os pés do tripé econômico. Aquele criado firmemente em 1999 para resolver os eternos problemas de estabilidade econômica do Brasil.

Vimos o governo aumentar a influência sobre o Banco Central, diminuir as taxas de juros apesar da inflação acima da meta e fazer medidas para controlar o câmbio; causando dificuldades para as metas de superávit primário. O resultado foi um crescimento de apenas 1% no ano, a frente apenas do nosso vizinho Paraguai.

Guerra ao capitalismo, protestos e o pré-sal

Em 2013, a indústria brasileira caiu ao menor patamar desde 2008. Os investidores internacionais já não achavam atrativo investir no Brasil por conta das regulações e intervenções do governo para limitar o lucro e atuação das empresas em diversos setores.

O país sofreu também com os protestos de junho de 2013. A partir das reclamações do aumento de R$ 0,20 na tarifa do transporte público em São Paulo, a população se levantou e foi para as ruas reivindicar muitas outras demandas, como a melhora da educação e saúde.

Os governos em todos os níveis recuaram com os aumentos e deram algumas benesses neste momento crítico, mas os danos principais já estavam causados. Enquanto isso, a presidente Dilma estimulava o confronto às ideias de oposição ao seu governo e não conseguia buscar conciliação com líderes políticos para consertar os rumos incertos do país.

Foi aprovada uma lei histórica para destinar os recursos do pré-sal para a educação e saúde e o Brasil conseguiu uma solução para isso. Apenas no papel. Já a produção de petróleo, não conseguiu aumentar significativamente.

Em termos de comparação, entre 2009 e 2016, os EUA aumentaram sua produção petrolífera de 5 milhões de barris para 9 milhões. Já o Brasil aumentou de 2 milhões de barris para apenas 2,1 milhões no mesmo período. Isso é resultado das intervenções governamentais que causaram a perda de capacidade de investimento da empresa. Ganhamos no papel e perdemos no mundo real.

Estagnação econômica, educação frágil e eleição

O ano de 2014 começa com economia brasileira já demonstrando um aumento significativo do desemprego. Além disso, já começamos a sofrer pesadamente com os sinais mais fracos resultantes da baixa produtividade do trabalhador brasileiro. Quando o país crescia a taxas maiores, não nos preocupamos em aumentar esse indicador; e era neste momento que o país precisava dele.

A educação financeira no Brasil é muito ruim. A maioria da população cai na tentação de gastar mais do que deve e não entende a política perversa de juros que vivenciamos desde sempre. Mesmo profissionais formados e com boa renda cometem este erro. O resultado disso é que os níveis de endividamento começaram a crescer vertiginosamente em todas as camadas sociais. O governo teve sua participação no problema, com suas políticas de estímulo ao consumo. Infelizmente essas políticas não foram acompanhadas de um estímulo à produção.

Com a eleição de 2014, os candidatos prometeram muito mais coisas do que poderiam executar. Ocorreu muita demagogia e grande parte dos problemas não foi atacada de frente por eles. Preferiram dizer o que os eleitores gostariam de ouvir. No curto prazo, isso significa que os protestos de junho de 2013 teriam suas demandas atendidas. No longo prazo, significava que a sociedade toda sairia perdendo.

O país rachado e Dilma parte 2

Nos últimos quatro anos do governo Dilma, as contas brasileiras se deterioraram muito e o Brasil foi o país que menos cresceu na américa latina. E o pior é que no ano de 2015 o governo precisou fazer o reajuste das tarifas, que não foram aumentadas devido à eleição. E isso abalou muito a confiança dos empresários e dos consumidores, chegando ao menor nível em todo o período de avaliação. Isso causou também um desgaste praticamente irreversível da presidente, que apesar de ter mudado a condução da economia, não se mostrou disposta a mudar sua postura política.

Após o processo eleitoral, o país se dividiu como nunca. Muitos responsabilizaram a vitória de Dilma pelos votos nas áreas mais pobres e menos avançadas do país. Realmente, os dados confirmam que áreas onde as famílias são mais vulneráveis, foram as que mais destinaram votos para a petista. Porém, há de se ressaltar que o problema da crise é vivenciado por todos e existe a necessidade de união para resolver isso. Por outro lado, a parte boa de todo o processo eleitoral é que os brasileiros aprendem a ser mais críticos e a acompanhar mais de perto os seus políticos.

Corte de gastos, terceirização e a lava-jato

Com um novo ministro da fazenda, o governo prometeu que faria os cortes urgentes para aumentar a confiança do mercado. A ideia principal era manter uma meta de superávit das contas públicas em 1,2%. Esses cortes envolviam muitas situações desconfortáveis para o governo, como mexer na política de salário mínimo e em gastos tidos como prioritários. E o problema não foi somente esse: para cumprir seu objetivo, o governo aumentou a tributação em muitos setores, incluindo o imposto de renda sobre todos os indivíduos.

Com o trabalhador brasileiro sentindo a perda real de renda nos últimos anos, surge a necessidade de mudança na lei trabalhista. Afinal, de 100% da força trabalhadora que temos, apenas 51% está empregada. A outra grande parte está entre os que não procuram emprego e os que não conseguem renda comprovada. Esse ambiente difícil é explicado pela dificuldade em empregar. Para se ter uma ideia, a cada R$2 pagos pelo empregador, apenas R$1 vai direto para o empregado. Apesar de mal vista pelos sindicatos, a terceirização pode diminuir essa diferença acima e ter muitos benefícios para o trabalhador.

A operação Lava Jato é a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve. Já apurou-se que volume de recursos desviados dos cofres da Petrobras, maior estatal do país, chegam a bilhões de reais. Além disso, entra em jogo a expressão econômica e política dos indivíduos poderosos suspeitos de participar do esquema de corrupção que envolve a companhia.

No primeiro momento, foram investigadas 4 organizações criminosas de doleiros. Depois, o Ministério Público Federal recolheu provas do esquema envolvendo a Petrobras. Grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos há pelo menos dez anos. O processo ainda está em curso, com dezenas de prisões e, principalmente, o agravamento da crise política e econômica do país.

Resumo de como o país chegou onde chegou e o que fazer de agora em diante

Chegamos até aqui a partir de várias situações que formam um círculo vicioso e perverso:

  • Os políticos gastam dinheiro que não possuem para manterem-se no cargo - isso causa falta de credibilidade e as pessoas compram dólares para se proteger;
  • O preço do dólar dobra e a inflação dispara;
  • Para evitar que os preços e importações subam demais, o Banco Central mexe na taxa de câmbio - isso tira ainda mais a credibilidade do governo;
  • Além de mexer na taxa de câmbio, o governo aumenta a taxa de juros, o que desencadeia o aumento da dívida pública - com isso, o Brasil perde o grau de investimento;
  • Com juros mais caros e crédito difícil, as vendas diminuem;
  • O resultado é que o PIB despenca e os políticos precisam gastar mais.

Agora, o país deve tomar atitudes para criar um círculo virtuoso e voltar a crescer:

  • De imediato, deve reduzir drasticamente os gastos públicos - isso melhoraria as contas e principalmente a credibilidade e confiança do investidor;
  • O investidor pode se aproveitar das oportunidades, já que o país está relativamente barato para investir;
  • Com mais investimentos, é provável que haja mais emprego e mais consumo;
  • Com mais vendas, o PIB aumenta e puxa a arrecadação para cima;
  • Enquanto isso, a procura por dólares cai e os produtos importados barateiam, o que diminui a inflação;
  • O BC diminui a taxa de juros e estimula ainda mais o consumo;
  • As contas nacionais melhoram com a maior arrecadação.

Os novos líderes

Mudanças duradouras não acontecem de uma hora pra outra. Razões políticas e econômicas da crise já foram levantadas. Porém, uma razão estrutural ainda não foi falada, que é a falta de formação de novas lideranças no país. Grande parte dos problemas que tivemos foi ocasionada pela nossa inabilidade de propor novas agendas e reformas.

A falta de liderança da presidente, que ocasionou sua derrocada, é o maior exemplo. Ela entrou como candidata pelo partido por não haver outras opções, e saiu por ter deixado o país também sem escolha. Enquanto isso, os políticos oposicionistas ficaram manchados pelas denúncias de corrupção e com medo do grande dano que a operação lava-jato causou em suas reputações. Metade dos congressistas está sendo investigada pela justiça.

O setor empresarial, por sua vez, se beneficiou das ações estatais por muitos anos e se manteve calado. Foi uma escolha covarde, ao invés de manter uma postura combativa. O vácuo de lideranças também pode ser visto em todas as categorias.

A parte boa é que sempre quando houveram graves crises políticas e econômicas no Brasil, tivemos mudanças significativas com o aparecimento de novos líderes. É necessário, então, aproveitar essa oportunidade e discutir como é o novo perfil de liderança que o país precisa para preencher o vazio recente.

São necessárias três qualidades essenciais de nossos líderes hoje: valores éticos para que não se repitam episódios recentes de corrupção, paixão pelo propósito de vencer desafios; e visão de longo prazo para não resolver apenas os problemas mais urgentes, mas manter o sonho das futuras gerações.

Notas finais

Depois de tanta informação negativa e constatações às quais ninguém gosta de chegar, o autor conseguiu abranger os desafios que o país enfrenta para colocar a casa em ordem. Depois da tempestade que passamos, espera-se uma recuperação econômica forte e constante. Mas para isso precisamos de tempo, esforço planejado e muita coordenação dos líderes que conduzirão o país a partir de agora.

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Quem escreveu o livro?

Ricardo Amorim é um economista, apresentador de televisão, palestrante brasileiro, colunista da Revista IstoÉ e autor do livro Depois da Tempestade. Foi comentarista da Rádio Eldorado no Programa Economia e Negócios. Em 2015, Ricardo foi eleito pela Revista Forbes uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil e escolhido pelo LinkedIn como o maior influenciador do Brasil. Morou e trabalhou nos Estados Unidos, e atualmente mora em São Paulo. Participa do progr... (Leia mais)

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